A leucodistrofia (do grego: leuko = branca + dis = transtorno + troph = crescimento) é um grupo de desordens caracterizadas pela degeneração da substância branca do cérebro. As leucodistrofias têm como resultado final o desenvolvimento imperfeito ou a destruição da bainha de mielina, filme gorduroso que envolve os axônios e atua como isolamento elétrico, permitindo a condução dos sinais nervosos. Até o momento, há mais de 50 tipos de leucodistrofias, sendo a Leucodistrofia Metacromática um deles.A Leucodistrofia Metacromática (LDM) é uma doença genética rara de herança autossômica recessiva que afeta o depósito lisossômico, sendo contemporânea como um erro inato do metabolismo do grupo das doenças de depósito lisossômico. A LDM é caracterizada por degeneração progressiva do Sistema Nervoso, resultando em perda de capacidades motoras, intelectuais e cognitivas. A LDM é causada por mutações no gene que codifica a enzima arilsulfatase A (ARSA), que atua no metabolismo da mielina, e que, quando tem atividade deficiente, causa a manipulação de uma série de lipídeos sulfatados, os quais têm como função principal constitui a bainha de mielina das células do sistema nervoso central (SNC) e periférico (SNP).

     A LDM recebe esse nome pela forma como as células com acúmulo de sulfatídeos aparecem quando vistas em um microscópio. Os sulfatídeos formam grânulos que são descritos como “metacromáticos”, o que significa que eles captam a cor de forma diferente do material celular ao redor quando corados para exame.Com a deficiência de ARSA, os sulfatídeos se acumulam, eventualmente destruindo a bainha de mielina dos neurônios. A bainha de mielina é uma cobertura gordurosa que protege as fibras nervosas. Sem ela, os nervos no cérebro e os nervos periféricos deixam de funcionar corretamente.

                                                                                     Figura 1. Adaptado de Cesani, M. et al (2016).

     Isso leva ao acúmulo de sulfatídeos, que resultam na disfunção e destruição das bainhas de mielina do SNC/SNP. Também se acumula em outros órgãos, incluindo rins, testículos e vesícula biliar. A LDM pode ser  classificada  de  três  formas  clínicas  dependendo  da  gravidade  e  idade  em que apareceram os primeiros sinais: forma infantil (ou infantil tardia), forma juvenil e adulta.

                         Figura 2. Progressão da Leucodistrofia Metacromática. Fonte: Gomez-Ospina N. Arylsulfatase A Deficiency. 2006 May 30 [Updated 2024 Apr 25]. In: Adam MP, Feldman J, Mirzaa GM, et al., editors. GeneReviews® [Internet]. Seattle (WA): University of Washington, Seattle; 1993-2024. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK1130/

A doença é categorizada com base na idade de início dos primeiros sintomas.

  • Forma infantil tardia: até 30 meses de idade
  • Forma juvenil: dos 30 meses (2,5 anos) até a puberdade
  • Juvenil precoce: 2,5 anos a 6 anos 
  • Juvenil tardio: 6 a 16 anos 
  • Forma adulta: mais de 16 anos de idade.

Epidemiologia:A LDM é uma doença rara. Existem muitas formas de Leucodistrofia, mas a Leucodistrofia Metacromática (LDM) é uma das formas mais frequentes.A forma infantil tardia é a forma mais frequente de LDM, representando cerca de 50 a 60% dos casos.A prevalência da leucodistrofia metacromática varia de 1/40.000 a 1/100.000 nas populações do norte da Europa e da América do Norte.A condição é mais comum em certas populações geneticamente isoladas: 1 em 75 em um pequeno grupo de judeus que imigraram para Israel do sul da Arábia (habbanitas), 1 em 2.500 na porção ocidental da Nação Navajo e 1 em 8.000 entre grupos árabes em Israel. 

Referências:

  1. Fonseca LF, Pianettil G, Xavier CC. Compêndio de neurologia infantil. São Paulo: Editora Medsi, 2001, 895p.
  2. Diament A, Cypel S. Neurologia infantil. 5a ed. São Paulo: Atheneu, 2010, 1887p
  3. Behrman RE, Kliegman RM. Princípios de pediatria. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004, 1024p
  4. Fonseca LF, Xavier CC, Pianetti G. Compêndio de neurologia infantil. Rio de Janeiro: Editora Medsi, 2011, 953p
  5. CESANI, M. et al. Mutation update ofARSAandPSAPgenes causing metachromatic leukodystrophy. Human mutation, v. 37, n. 1, p. 16–27, 2016.